Único figueirense presente no Jogos Olímpicos de Paris teve uma ótima participação... porque não foi falado! Publicamos hoje em exclusivo o seu testemunho!
Como já neste site referimos, o figueirense de gema Miguel Amaral foi o primeiro português a integrar uma equipa de árbitros na sua categoria (modalidade da Vela) em Olimpíadas. E como é sabido, as boas prestações dos árbitros em qualquer modalidade são evidenciadas quando estes não são falados!Pelo acompanhamento que aqui fomos fazendo, Miguel Amaral escreveu-nos um texto, em exclusivo, dando conta do que foi a sua experiência:
“Terminaram os Jogos Olímpicos de Verão, Paris 2024, a XXXIII olimpíada!
Apesar de Paris ter sido a cidade anfitriã deste jogos olímpicos, quem os seguiu durante estas duas semanas apercebeu-se com certeza que muitas outras cidades de França acolheram outras modalidades, como foi o caso da vela.Não seria de todo possível, para a cidade de Paris, acolher esta modalidade desportiva, ainda que o rio Sena tenha sido palco de algumas outras ligadas à água. A vela, pela sua particularidade de ter que ter percursos que se desenrolam num raio de mais de uma milha náutica, nunca seria possível realizar em Paris e por isso a cidade escolhida pela organização foi nada menos que a segunda maior cidade francesa, localizada a sul do país e banhada pelo Mar Mediterrâneo, Marselha, e esta não defraudou as espetativas, com milhares de visitantes diários à vila olímpica, não fossem os franceses grandes amantes da modalidade.
Consegui cumprir um grande objectivo, que desde novo me lembro ter. Estar presente nuns jogos olímpicos! Esta caminhada começou à quase 30 anos, quando com oito anos comecei a fazer vela no Clube Náutico da Figueira da Foz (CNAFF). Como qualquer outra criança que gosta do desporto que pratica, estive envolvido na escola de vela do clube, passando pela aprendizagem, aperfeiçoamento, competição e mais tarde monitor e gestor da escola do clube, estas última duas que ainda hoje desenvolvo. A arbitragem foi-se metendo no meio deste percurso de forma disfarçada até ao dia em que entendi que seria difícil atingir o meu objetivo como velejador, mas talvez houvesse uma outra hipótese com futuro, ainda que fosse tão perto de impossível de acontecer como a primeira.
A verdade é que se realizou e tive a sorte de ser o primeiro árbitro português, na categoria de oficial de regata (que é um estilo de maestro que conduz a regata) a ser nomeado para uma olimpíada. Isto não aconteceu sem muito trabalho e arrisco-me a dizer com algum sacrifício pessoal, pois foram muitos os almoços, jantares, convívios com os amigos e família que tiveram que ficar pendurados, pois eu estava num qualquer campeonato ao qual não podia mesmo faltar, se quisesse lá chegar.
Depois de quatro anos de seleção (sim, nós também somos selecionados, neste caso pela Federação Internacional de Vela) em que percorri meia Europa, para a frente e para trás, sem poder cometer o mínimo erro (sim, se cometermos erros também somos mandados para casa) fui nomeado para conduzir as provas das classes Women Skiff, realizada nos barcos 49er FX e composta por uma dupla feminina e ainda Mixed Dinghy, esta em barcos 470, composta pela primeira vez por uma dupla de género misto.À semelhança dos meus três outros colegas, pares nesta função, oriundos de Espanha, Itália e Austrália, tive aos meus comandos outros dois árbitros internacionais, também nomeados pela federação internacional e ainda quase meia centena de elementos da organização francesa, que me ajudaram a realizar cerca de 20 regatas para as 40 embarcações em prova.
Marselha não foi o sítio mais fácil do mundo em que já atuei enquanto árbitro e foram muitas as vezes que as magníficas nortadas figueirenses me vieram saudosamente à memória. No mês de agosto a cidade é um procurado destino turístico e de praia, o que regra geral significa que não há muito vento e nem o tão famoso vento Mistral deu um ar de sua graça… Para além disso, o vento que havia foi sempre fraco e oscilante na direção, o que criou algumas dificuldades para mim e para a minha equipa na gestão das regatas, constantemente realizadas com uma grande pressão sobre todos, não estivéssemos nós a servir os melhores do mundo, no maior evento desportivo do mundo!
No final correu tudo pelo melhor. Velejadores e respetivas equipas técnicas satisfeitas, organização satisfeita e eu satisfeito. Regresso à minha cidade, que faço sempre questão de publicitar com orgulho, nas minhas viagens pelos quatro cantos do mundo, com um sentimento de missão cumprida e bem cumprida!
Agora preparemo-nos para o que vem a seguir. Como diz o provérbio, a vida são dois dias e por isso há que tratar do futuro. Vamos ver se o meu nível de representação estará à altura de Hollywood daqui a quatro anos.
Deixou um abraço a todos os que me apoiaram neste percurso, em especial à minha família e amigos e claro ao CNAFF!
Miguel Amaral”
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5 comentários:
Very proud of you,Miguel.XO
E não merecia uma recepção na câmara?
Claro que sim!!! 👏👏👏
Parabéns Miguel!!! Quem cumpre bem o seu trabalho não precisa de homenagens porque o dever cumprido é satisfação suficiente que enche o corpo o espírito e a alma, e esse parece ser o seu caso.Mais uma vez parabéns e mais sucesso no futuro,que o Miguel chegue sempre onde deseja chegar.De uma Figueirense no estrangeiro.Abraço.
Grande Miguel! Segundo o dito castrense "Alcança quem não cansa". Excelente participação e performance, com reconhecimento máximo pelos teus pares. Feito ainda mais elevado num País e numa cidade que não valoriza nem reconhece os seus esforçados heróis. Assim, aguarda que mais para o final do ano verás serem galardoados, pela tua cidade, outros por menos elevados feitos com reverência casuística de trabalho de casa mal feito... Enfim somos Figueirenses, e continuaremos a fazer, bem, o que nos compete para que outros sejam reconhecidos!
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