Franciscos há muitos mas "Xico do Raios X" só há um... que é o “nosso” e mais nenhum!

Um técnico de radiologia que todos atendia mesmos os que lhe confessavam não ter posses para pagar os exames!

Há por aí épocas que são marcas pelo tempo fora, assim como existem nomes que marcam épocas!

Hoje ainda em dia os figueirenses dizem que vão ao “Xico do Raios X” apesar deste já se encontrar retirado e reformado desde novembro de 2011, existindo agora neste local um Centro de Radiologia.

Francisco Moreira Nunes nasceu em Corgas, Sandomil, no concelho de Seia, filho de família humilde.

Tinha quatro irmãos, com um irmão gémeo. A família, de origem humilde, radicou-se em Coimbra em 1945, na zona de Montes Claros. A sua infância foi passada na cidade dos estudantes. Os pais, apesar de pobres, eram ricos em princípios e valores, e aos 14 anos o Francisco começou a trabalhar num consultório de radiologia.

Na década de 50 do século passado, perante a constatação da falta que um espaço de radiologia fazia na Figueira da Foz, os proprietários deram início ao processo de abrir um Centro da especialidade, convidando o então jovem Francisco Nunes, apesar de só ter 18 anos, a assumir a gerência. O que acabou por acontecer em novembro de 1958, altura em que o Raios X da Figueira da Foz foi inaugurado num 1º andar do número 46 da Rua Maestro David de Sousa.

E assim nasceu o Xico do RaiosX!

Amigo do seu amigo e de grande alma, nunca deixou ninguém de ser atendido, fosse qual fosse o motivo. Várias pessoas lhe confessaram a falta de posses para realizar os diversos exames ou formas de radiologias, mas isso não lhe interessava, e fez questão de reafirmar que nunca, e repetiu, nunca, saiu alguém do seu consultório sem os exames e radiologias que tinham de fazer, com a compreensão e humanidade que sempre o caracterizou.

E quase lhe vêm as lágrimas ao olhos a contar um situação passada pouco antes de se reformar: Que uma vez uma idosa e pobre senhora sua conhecida lhe disse que o médico lhe tinha aconselhado a fazer determinados exames de radiologia, mas que ela não iria fazê-los pois não tinha dinheiro para isso! O Xico não quis ouvir mais e disse-lhe para entrar na sala dos aparelhos realizando de imediato a prescrição médica. E que a senhora podia ir embora descansada, que não lhe devia nada!

A senhora, comovida, saiu agradecendo encarecida e veementemente.

Passado uns dias, voltou ao Raios X do Xico a pedir para falar com este... com a finalidade de lhe oferecer dois pacotes de um quilo, um de açucar e outro de arroz, como agradecimento pela seu ato.

“...e eu senti-me na obrigação de aceitar!” - contou-nos o Xico com uma lágrima ao canto do olho! “-Cheguei a casa e dei à minha mulher e disse-lhe para usar os produtos numa refeição especial, porque são ouro! Estes dois pacotes são ouro!” - repetiu!

E é por coisas como estas que se prova que não são os “grandes donos disto tudo” que ficam na história, mas sim quem tem a alma grande e a humildade de fazer bem ao próximo sem olhar à sua condição nem exigir retorno.

E é por isso que o Xico do Raios X ainda hoje é, e vai continuar a ser, recordado!